Frequentemente citada em discussões sobre economia e investimento, a taxa Selic de juros costuma provocar tensão e expectativa nos mercados financeiros e no noticiário econômico às vésperas de cada possível reajuste.
De fato, ela desempenha um papel central na economia brasileira, seja no combate à inflação, geração de emprego ou até mesmo na rentabilidade de investimentos. Apesar de sua relevância, muitos profissionais ainda têm dúvidas sobre o que ela realmente representa, como é calculada e de que forma impacta as decisões financeiras de empresas e indivíduos.
Neste artigo, vamos explorar os principais aspectos da Taxa Selic e como ela influencia o cenário econômico – e os investimentos.
O que é a Taxa Selic?
A Taxa Selic é a taxa básica de juros da economia brasileira. Ela é usada como referência para diversas outras taxas de juros praticadas no mercado, como as de empréstimos, financiamentos e investimentos.
Desde sua instituição, a taxa Selic passou a ser vista como um instrumento para combater a inflação, na medida em que juros mais altos desestimulam a busca por dinheiro e o consumo.
No dia a dia, observa-se que, quanto maiores os juros, menor é a alta de preços. Em um cenário de juros altos as pessoas tendem a comprar menos. Isso ajuda a diminuir a demanda e, também, a reduzir os índices inflacionários.
Origem do nome Selic
O nome Selic deriva da sigla “Sistema Especial de Liquidação e Custódia”, um sistema eletrônico utilizado pelo Banco Central do Brasil (BACEN) para registrar as operações com títulos públicos federais.
Esse sistema foi criado em 1979 com o objetivo de modernizar e trazer maior transparência ao mercado financeiro, a partir do registro, controle e liquidação das operações com títulos da dívida pública federal emitidos pelo Tesouro Nacional. Até hoje, o Selic é o principal mecanismo para gerenciar a dívida pública federal e regular a liquidez do sistema financeiro.
Assim, a Taxa Selic refere-se à taxa média de juros ia das operações de financiamento entre instituições financeiras, que são lastreadas em títulos públicos custodiados nesse sistema. Por ser um índice amplamente utilizado para balizar juros no mercado, a Selic se tornou um termo essencial no vocabulário de economia e finanças no Brasil.
Como a taxa Selic é definida?
A definição da Taxa Selic ocorre em reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, realizadas a cada 45 dias. O comitê analisa uma série de indicadores econômicos, como inflação, câmbio, nível de atividade econômica e cenários externos, para determinar se a Selic deve ser mantida, reduzida ou elevada.
O principal objetivo da Taxa Selic é controlar a inflação. Quando a inflação está alta, o Banco Central tende a aumentar a Selic para reduzir o consumo e equilibrar os preços. Já em períodos de inflação baixa ou economia desaquecida, a taxa pode ser reduzida para estimular o consumo e os investimentos.
Selic Meta e Selic Over: qual a diferença?
A taxa Selic é dividida em Meta e Over. A Selic Meta é a taxa-alvo definida pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. Essa taxa é revisada a cada 45 dias durante as reuniões do Copom, com o objetivo de alinhar a política monetária às metas de inflação estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
A Selic Meta é a taxa que o Banco Central usa como referência para influenciar a liquidez do mercado financeiro e regular a economia. Em outras palavras, é o índice que serve de base para todas as demais taxas de juros praticadas no país, como financiamentos, empréstimos e retornos de investimentos.
A Selic Over, por sua vez, é a taxa efetiva apurada diariamente no mercado financeiro. Ela reflete a média ponderada das taxas de juros praticadas nas operações de financiamento entre instituições financeiras, que usam títulos públicos federais como garantia no mercado interbancário.
Diferentemente da Selic Meta, a Selic Over é uma taxa operacional, que mostra o que realmente aconteceu no mercado financeiro durante um dia. Ela é calculada pelo Banco Central e divulgada no dia útil seguinte, servindo como referência para diversas operações financeiras, como rendimentos de títulos públicos.
Apesar de terem propósitos distintos, a Selic Over tende a acompanhar a Selic Meta, já que o Banco Central atua no mercado para manter a taxa efetiva próxima da meta estabelecida.
Taxa Selic e a inflação
O Banco Central usa a Taxa Selic para balizar a meta de inflação definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Essa meta funciona como parâmetro para que os preços permaneçam estáveis, sem prejudicar o crescimento econômico.
Ao ajustar a Selic, o Banco Central busca encontrar um equilíbrio entre o crescimento econômico e a estabilidade dos preços, evitando tanto a inflação descontrolada como a recessão.
A relação entre a Taxa Selic e a inflação ocorre por meio de dois mecanismos principais: estímulo ou contenção da demanda e controle do crédito.
- Aumento da Taxa Selic: freando a inflação
Quando a inflação está alta, o Banco Central pode elevar a Taxa Selic. Isso acontece porque:
• Empréstimos e financiamentos ficam mais caros: xom juros mais altos, o crédito se torna menos acessível, reduzindo o consumo e a demanda por bens e serviços.
• Estímulo à poupança: taxas de juros maiores tornam os investimentos em renda fixa mais atraentes, incentivando as pessoas a poupar em vez de gastar.
• Redução da pressão sobre os preços: com menor demanda, as empresas têm menos espaço para aumentar preços, assim contribuindo para o controle da inflação.
- Redução da Taxa Selic: estimulando a economia
Em contrapartida, quando a inflação está baixa ou a economia precisa de estímulo, o Banco Central pode reduzir a Selic. Nesse cenário:
• Empréstimos e financiamentos ficam mais baratos: juros menores incentivam o consumo e os investimentos das empresas, aquecendo a economia.
• Estímulo à demanda: com mais dinheiro circulando, a demanda por bens e serviços aumenta, o que pode levar a um aumento controlado dos preços, ajudando a evitar a deflação.
Como a Selic influencia os juros?
A Taxa Selic influencia os juros por ser a base do custo do dinheiro para os bancos. Quando a Selic está alta, os bancos enfrentam um custo maior para captar recursos e repassam esse custo aos clientes por meio de taxas de juros mais elevadas.
Em contrapartida, quando a Selic está baixa, o custo de captação diminui, permitindo que os bancos ofereçam crédito a juros mais acessíveis. Essa dinâmica afeta diretamente o comportamento da economia, incentivando ou desestimulando o consumo e o investimento.
Juros de crédito e financiamentos
A Taxa Selic serve como referência para os bancos definirem os juros cobrados em operações de crédito, como empréstimos, financiamentos e cartões de crédito.
• Selic alta: aumenta o custo do crédito, tornando empréstimos e financiamentos mais caros para consumidores e empresas.
• Selic baixa: reduz o custo do crédito, incentivando o consumo e o investimento.
Juros de investimentos
A Selic também impacta a rentabilidade de investimentos de renda fixa, como Tesouro Selic, CDBs e fundos de renda fixa.
• Selic alta: gera maior retorno em aplicações conservadoras, como títulos públicos e privados.
• Selic baixa: Torna os retornos desses investimentos menos atrativos, levando investidores a buscarem opções mais arriscadas, como ações.
Como a taxa Selic influencia a economia do país
A Taxa Selic é um dos pilares da política econômica brasileira e tem um impacto abrangente, influenciando desde o comportamento dos consumidores até as decisões estratégicas das empresas.
Ela afeta diretamente o custo do dinheiro na economia e, consequentemente, influencia uma série de variáveis econômicas e decisões corporativas e individuais.
Nos investimentos:
A Selic é referência para aplicações de renda fixa, como Tesouro Direto, CDBs e LCIs/LCAs. Quando a taxa está alta, os investimentos em renda fixa tendem a se tornar mais atrativos. Em contrapartida, uma Selic baixa incentiva a busca por opções de maior risco, como ações.
No crédito e financiamento:
Uma Selic mais alta encarece empréstimos e financiamentos, impactando negativamente o consumo e os investimentos. Quando a Selic é reduzida, ocorre o inverso, facilitando o acesso ao crédito.
Na inflação:
O controle da inflação é o principal objetivo da Selic. Ao aumentar os juros, o Banco Central desestimula o consumo, reduzindo a pressão sobre os preços. Em contrapartida, juros baixos estimulam o consumo e podem aumentar a inflação.
Nas empresas:
Empresas que dependem de crédito ou têm dívidas indexadas à Selic sofrem impacto direto com as variações da taxa. Por outro lado, setores como o imobiliário e o varejo podem ser beneficiados por uma Selic mais baixa, que reduz o custo do financiamento ao consumidor.